Quem assistiu ao filme “Julie
e Julia” ou é apreciador da culinária francesa, já deve ter ouvido falar do “Boeuf
Bourguignon”. No filme, Julia fala dessa receita com tanto carinho e água na
boca que eu precisava fazê-la. Adiei em duas semanas o seu preparo, pois estava
insegura. Meus conhecimentos na cozinha ainda são bem limitados.
O Boeuf Bourguignon
consiste em uma forma específica de preparo de carne bovina em cubos à moda de
Borgonha, umas das regiões da França. Receita com nome difícil de pronunciar,
mais difícil ainda de escrever e enlouquecedor no preparo. Iniciei os trabalhos
as 9h00 e terminei apenas as 13h00. Sinto-me cansada, quase doente...
O dia começou com uma
desagradável surpresa. Acredito que açougueiros foram crianças levadas que
fugiam das aulas de geometria. Pedi a carne (1 kg de paleta) cortada em cubos e
ela veio em triângulos, retângulos, trapézios e outros tantos pedaços disformes
que nem sei como chamar. Resultado: meia hora limpando e refazendo os cortes da
carne com uma faca de dar vergonha. Por sinal, aceito doação de uma bela faca
para corte de carnes. Confiar no açougueiro, pelo visto, está fora de questão.
Desafio com a carne
vencido, lá veio a vez de picar o bacon e fritar. O óleo da fritura deveria ser
usado para fritar os cubos de carne, mas restou muito pouco na caçarola. Então
lembrei que tinha guardado a gordura que saiu do bacon que fritei para os Ovos
à americana. Eu a derreti e fui fritando a carne aos poucos.
Como expliquei na
receita da Carne na cerveja, o Larousse não traz muitos detalhes do preparo do
carne, então segui o lindo conselho de Julie Child e, mais uma vez, sequei cada
cubinho de carne antes de fritar na gordura de porco. Detalhe: da última vez
que preparei carne em cubos, usei gordura de porco comprada no mercado. Sinto
muito ao informar que o resultado com a gordura caseira é bem melhor.
Escorri os cubinhos de
carne e o bacon, cortei as cenouras e as cebolas em rodelas e passei ao preparo
de outras receitas do Larousse que são
unidas a essa: os crûtons de alho (que são cubinhos de pão torrado no forno com
manteiga e azeite aromatizados com alho); as cebolas glaçadas (12 mini cebolas –
optei por usar 13 pra dar sote – cozidas em uma calda de manteiga, água, açúcar
e uma pitada de sal). Limpei, fatiei e dourei os cogumelos na manteiga (em
pequenas porções, assim como prega a Julie Child). Reservei tudo.
Na caçarola que fritei
as carnes, ainda com a gordura de porco, levei ao fogo os cubos de carne e as
rodelas de cebola e cenoura. Refoguei temperados com sal e pimenta. Escorri e descartei a gordura. Voltei tudo
para a caçarola, acrescentei o caldo de carne (preparado na quarta-feira, ele
estava guardado no congelador), o vinho tinto seco e um bouquet garni (salsa, louro e tomilho). Deixei cozinhando em fogo
brando por duas horas. Durante esse período, tive que acrescentar cerca de um
litro de água – usei ela morna para não cair a temperatura do cozido.
Ao fim do cozimento,
escorri as carnes e as cenouras e retornei com o caldo que restou para a
caçarola até reduzir. Acrescentei as cebolas glaçadas, o bacon e os cogumelos.
Cobri com o molho a carne que tinha reservado na terrina de porcelana. Até esse
momento acreditei que não sairia grande coisa dessa receita. Desacreditei da
minha capacidade, pois a aparência da minha carne não estava lá muito boa.
Parecia que estava cozinhando uma feijoada – receita da qual não sou uma fã.
Mas quer saber de uma coisa? Neste momento, logo após ouvir elogios de todos
que saborearam meu Boeuf Bourguignon, me sinto realizada. Uma cozinheira que
está preparada para grandes desafios. Feliz!
Prato feito. Prato servido.
“Bon appétit” não representa completamente tanto sabor!
Que Deliciaa !!!
ResponderExcluirE estava mesmo viu! =)
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